Tecnologia que aproxima e afasta
Ursula K. Le Guin foi uma escritora de ficção científica e autora de quem eu ainda pretendo ler muitos livros. E graças a um maravilhoso acaso ao passar pela timeline da minha conta do Mastodon, encontrei um pequeno trecho de uma entrevista que ela concedeu em 2014, em que ela compara a vida de antigamente, em que esperar pelas coisas acontecerem simplesmente fazia parte do processo com a vida moderna que você e eu vivemos, em que basta não obter uma informação instantaneamente para nos irritarmos… ou surtarmos.
Vivemos uma vida em que negamos o tempo:
I lived when simply waiting was a large part of ordinary life: when we waited, gathered around a crackling radio, to hear the infinitely far-away voice of the king of England… I live now when we fuss if our computer can’t bring us everything we want instantly. We deny time.— Ursula K. Le Guin
Úrsula continua, e dispara, dizendo o quanto considera essa nossa existência virtual, esta forma de vida, esquisita: hoje nossos celulares permitem que conversemos com alguém que está em Indiana enquanto damos uma corrida na praia — sem prestar atenção à paisagem da praia — ou conversemos em grupos nas redes sociais ao mesmo tempo em que ignoramos as pessoas mais próximas de nós fisicamente (inclusive nossos familiares).
A medicina pode ter avançado muito nos últimos tempos, e suas descobertas podem ter contribuído para que o ser humano possa viver mais. Mas fico me perguntando se estaremos condenados pelas redes sociais e tecnologia moderna a viver menos a vida, mesmo vivendo mais fisiologicamente por mais tempo?
Um amigo que não vejo há algum tempo costumava dizer que a tecnologia e a internet existem para aproximar os distantes e distanciar os próximos. E hoje prestamos menos atenção ao mundo ao nosso redor, às pessoas ao nosso redor, aos relacionamentos, gestos, sons. O que virá a seguir?v