Pelo fim da monogamia literária
Há alguns anos atrás participei de um treinamento corporativo sobre técnicas de apresentação. Naquela oportunidade, pouco antes de o treinamento em si começar, o instrutor resolveu fazer uma daquelas dinâmicas de quebra-gelo, onde as pessoas, que naquele caso não se conheciam, pudessem se apresentar umas para as outras.
Eu gostaria muito de poder dizer que me lembro o nome de um dos participantes — e infelizmente, não consigo agora, mas me lembro de algo muito interessante que ele disse. Assim como eu, ele também gosta muito de ler, e dali veio a declaração que me fez mudar a forma de encarar minha leitura.
Ele disse que lê vários livros ao mesmo tempo, coisa que eu até então não fazia. Para mim, era sempre ler um livro do início ao final para, só então, passar para o próximo. O próximo, também lia todo, até o final, para só então pegar um terceiro, e assim por diante.
Mas ele disse que, assim como a esposa dele, que adorava novelas, podia acompanhar a das 18:00, a das 19:00 e a das 20:00, ele também fazia a mesma coisa com os livros: podia, por exemplo, ler o das 18:00, o das 19:00 e o das 20:00, e até mais do que isso.
Eu fiquei curioso e perguntei a ele se isso não fazia com que ele esquecesse o que tinha lido, mas obviamente ele me disse que não, e eu, mais tarde, tendo começado a ler mais de um livro ao mesmo tempo, pude comprovar por conta própria.
Foi a partir dali, adotando a leitura de mais de um livro, portanto, que eu abri mão da monogamia literária, e isso foi muito bom.
Muitas pessoas já fazem isso. Nunca leem um só livro de cada vez. Passeiam entre títulos e mídias diversos sem medo de ser feliz nem preocupação em perder o fio da meada ou esquecer algum detalhe. Essa liberdade e controle do processo funcionam como um estímulo a ainda mais leituras.
— Conrado Schlochauer
Foi devido à esse trecho acima, do livro Lifelong learners: o poder do aprendizado contínuo, do Conrado Schlochauer, que eu me lembrei dessa história.
Esse participante do treinamento mudou minha vida. Ele certamente usufruía há muito tempo dessa liberdade literária, dessa poligamia. E me ensinou uma valiosa lição, a qual resolvi deixar registrada em palavras, pois talvez seja útil também para você, que leu este texto até o final.